COLONIALISMO DE CARBONO NA ÁFRICA: ENTRE A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E A RESILIÊNCIA DAS COMUNIDADES LOCAIS
- Luis Fernando F. Penteado
- 10 de abr. de 2024
- 2 min de leitura
A crescente busca por soluções para o combate às mudanças climáticas tem levado à implementação de projetos de conservação que, embora visem a preservação ambiental, frequentemente entram em conflito com os modos de vida das comunidades locais. Na África, entretanto, vem ocorrendo um fenômeno que coloca em questão a eficácia e a ética dos projetos de crédito de carbono, especialmente em contextos onde a posse indígena da terra é um direito reconhecido, mas não respeitado.
O Caso da Libéria
Recentemente, o governo da Libéria concordou em vender aproximadamente 10.931 quilômetros quadrados de terra — cerca de 10% do território nacional — para a empresa Blue Carbon, sediada em Dubai, com o objetivo de preservar florestas ameaçadas pelo desmatamento e pela agricultura. Este acordo, realizado sem a consulta às comunidades locais, exemplifica a prática de "colonialismo de carbono": um processo pelo qual empresas estrangeiras se apropriam de grandes extensões de terra em países africanos para a venda de créditos de carbono, muitas vezes ignorando os direitos e os meios de subsistência das populações indígenas.
Críticas e Resistências
A abordagem adotada pela Blue Carbon e similares tem sido alvo de críticas contundentes por parte de ativistas e pesquisadores, que apontam para uma série de problemas associados a esses projetos. Primeiramente, questiona-se a real contribuição dessas iniciativas para o combate às mudanças climáticas, dada a problemática do "benefício zero" ao clima. Além disso, a falta de transparência e a violação dos direitos humanos — incluindo despejos forçados e a destruição cultural — são aspectos frequentemente citados. No Quênia, por exemplo, populações indígenas foram desalojadas para dar lugar a projetos de créditos de carbono, agravando a vulnerabilidade dessas comunidades.
Entre o Ambiental e o Social: Um Equilíbrio Necessário
A África, continente que menos contribui para as emissões globais de gases de efeito estufa, possui recursos naturais cruciais para a mitigação das mudanças climáticas. No entanto, o desafio reside em harmonizar as metas climáticas com as realidades econômicas e sociais das populações indígenas, que tradicionalmente dependem dessas florestas para sua subsistência. Governos africanos, pressionados pela necessidade de recursos financeiros, veem-se atraídos por essas iniciativas de conservação, mesmo diante dos riscos evidentes à integridade e aos direitos das comunidades locais.
Por um Modelo de Conservação Justo e Inclusivo
A experiência da Libéria e de outros países africanos revela a importância de desenvolver modelos de conservação ambiental que sejam justos e inclusivos, respeitando os direitos das populações locais e proporcionando-lhes meios de subsistência alternativos. A exigência de consentimento prévio, livre e informado das comunidades é fundamental para evitar conflitos e garantir que as iniciativas de crédito de carbono contribuam efetivamente para a sustentabilidade ambiental e social.
O caso da Blue Carbon, com seus projetos de conservação de grandes extensões de terra na África, suscita questões críticas sobre a governança, a transparência e a equidade no mercado global de carbono. À medida que o mundo avança na busca por soluções para as mudanças climáticas, é crucial que os direitos e as vozes das comunidades indígenas e locais sejam ouvidos e respeitados. Somente assim poderemos alcançar um equilíbrio entre os objetivos ambientais e a justiça social, essencial para uma verdadeira sustentabilidade.

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